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Sobreviver no personagem - Melânia Costa

Marilyn Monroe... Heath Ledger... Philip Seymour... atores que morreram supostamente por overdose. Existiria a necessidade de que criassem  outros personagens para sobreviver? Eram atores e eram excepcionais. 
O talento lhes permitiria ser quem quisessem, mas há um quê de inadequação em suas vidas. O talento não lhes serviu para que criassem um personagem capaz de mantê-los vivos na vida real, longe dos holofotes.
Viver uma outra persona se esconder… se refugiar... seria isso a salvação?
Aqui no mundo dos seres comuns, a sobrevivência provoca a construção de personagens. Desde muito cedo. O bom moço, a moça delicada, os pais atenciosos, o profissional exemplar. Se não fuciona por aí, é possível amparar-se em papel oposto, a ovelha negra, a mocinha agressiva, pais rigorosos ou ausentes, profissional relapso.  
São personagens convenientes, salvadores, acionados em público.
Há, no entanto, o momento de se colocar a pose no cabide. E é possível que neste momento, em que se retiram as máscaras, em que se para de atuar, que o desajuste com o ser real, fora do papel cotidiano,  seja avassalador. O contato consigo mesmo e a ausência de aplausos, a falta de uma agenda que tome o tempo todo e a convivência normal, com pessoas normais, possa ser chocante para quem vive uma realidade paralela.
E se o personagem a ser interpretado fosse uma reinvenção de si mesmo, uma exposição do Eu verdadeiro, da pura essência que, escondida sob máscaras sociais, produzidas por defesa ou para aceitação, enfim se revelasse? 
O cérebro não distingue o real do fingimento, diz a ciência. Assim, da mesma forma que o eu por mim criado para transitar socialmente me convence de ser eu mesma, seria possível eu me recriar, encenar um personagem que me garantisse sobrevivência. Não só acessá-lo quando conveniente, mas incorporá-lo de tal forma que viesse a ser eu em tempo integral. 
Marilyn Monroe.. Heath Ledger...   Philip Seymour… não se sentiram autorizados ou capazes de compor um personagem que lhes salvasse da realidade? Mortos precocemente, o maior recado que deixam é o ato de desistência da vida. E nós, não estaríamos também matando-nos para sobreviver socialmente?
Melânia Alice Costa



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